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NA TERRA DOS MIL RITMOS

Do rock ao merengue, do hip-hop à salsa: a mágica versatilidade da Colômbia.


Por FELIPE VIVEIROS*

EN LA TIERRA DE LOS MIL RITMOS (Español)
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Grande exportadora de talentos, a Colômbia é influente nas diversas esferas populares da América do Sul. Na verdade, o tamanho do continente sul-americano é pouco para a importância cultural que o país carrega. O mundo acorda com a magia das histórias do prêmio Nobel de Literatura Gabriel García Márquez, aprecia a beleza das voluptuosas esculturas de Fernando Botero, se diverte com séries e filmes estrelados por Sofia Vergara, por fim, torceu pelos craques de futebol Carlos Valderrama e Falcao Garcia e, atualmente, por James Rodriguez.


A música nunca faltou como expressão da cultura colombiana, seja no estilos tradicionais ou mais modernos. O som da Colômbia encanta, como uma explosão de sabores andinos e tropicais, do pop à musica clássica, da salsa ao rock. O ritmo e a dança são tratados com carinho, apoiados pelas gravadoras locais e estrangeiras, fomentados pelo Ministério da Cultura e inovados pelas diversas empresas independentes do país. O resultado é amplo e internacional: de Shakira, Juanes e Carlos Vives a sucessos mais recentes como J Balvin, Karol G, Sebastián Yatra e Maluma, a Colômbia pulsa nas rádios, casas e fones de ouvido no mundo inteiro e tem revelado, nos últimos anos, que a sua versatilidade não fica por aí.


Um grande exemplo de flexibilidade musical do país é o grupo LosPetitFellas, contadores de histórias que fazem do jazz, funk, soul, rock e hip-hop seu canal de comunicação. Entre os ruídos da vida na metrópole de Bogotá, são estrelas do movimento alternativo nacional, em meio a tantas figuras consolidadas na cena pop colombiana. É realmente difícil classificar o gênero da banda em sintonia com o rap lírico, as letras sobre teoria do caos, os lábios, os beijos e a poesia da vida noturna. Formado por seis integrantes, o conjunto tem quatro álbuns de estúdio e foi nominado ao Grammy Latino por sua produção discográfica "Formas para Perderse o I.D.E.A.S", aclamada pela crítica internacional. Os meninos bogotanos lançaram, neste ano de 2020, o álbum "777: Buenos Días", que consolida a identidade do grupo na cena do hip-hop, ao mesmo tempo que faz o ouvinte viajar em fusão inédita dos sons do rock, dubstep e salsa. Assim como a Colômbia em sua versatilidade cultural, LosPetitFellas mostram que não são nada "petit".


foto: divulgação


Da mesma maneira versátil trabalha o grupo musical Monsieur Periné. Liderado pela carismática Catalina Garcia, a banda é influente–e fluente–em todas as línguas que canta, do Espanhol ao Francês, do Português ao Inglês. Com o multi-instrumentista Santiago Prieto, o conjunto é uma das revelações sul-americanas de maior projeção internacional. Influenciados pelo gypsy jazz do francês de etnia rom, Django Reinhardt, o grupo tem como base o contrabaixo, percussão, bateria, saxofone, clarinete, trombone: um verdadeiro laboratório experimental de estéticas populares. Seu álbum "Caja de Música" é como um swing colombiano em um gramofone digital e rendeu à banda o Grammy Latino de "Melhor Artista Revelação", algo que tem se tornado frequente para o país nos últimos anos. Escutar Monsieur Periné é como fazer viagem a uma Colômbia belga, conversar com um cigano caribenho e escutar encanto tropical em uma caixa de música feita a mão.


foto: divulgação


Para aqueles ainda não convencidos da polivalência das expressões culturais que permeiam a vida de nossos hermanos, Doctor Krápula vem para dividir opiniões: literalmente. Reconhecida por suas mensagens políticas e contundentes, a banda ícone do ska punk latino mostra que até gêneros rítmicos e folclóricos podem ser punks quando tocados na Colômbia. Na pouco provável mistura de punk com merengue e salsa, o conjunto foi nomeado cinco vezes ao Grammy Latino, três vezes aos Prêmios MTV Latino e, ainda, conta com um disco de ouro: "Viva El Planeta". O grupo já passou por mais de 15 países promovendo equilíbrio entre ativismo socioambiental e festa rebelde. Doctor Krápula é como um passe rápido e preciso do Falcao Garcia, influenciado em campo em um dia atípico de reggae, rock, punk e rocksteady.


foto: divulgação


Assim como o Brasil e muitos dos nossos vizinhos sul-americanos, a Colômbia tem fortes assimetrias sociais e regionais, fazendo com que a música manifeste as condições da vida ao mesmo tempo que celebre a expressão cultural que pulsa nos ritmos da região. É o caso do grupo ChocQuibTown, que mostra amplitude entre canções alternativas, urbanas e de fusão tropical. Com beats elaborados da música eletrônica, ritmos tradicionais da costa do Pacífico, jazz latino, dancehall jamaicano e funk dos EUA, o conjunto formado na cidade de Cali é cultura afro-colombiana em seus mais elaborados estilos. Se o assunto são cores africanas e sabores tropicais, Chocquibtown foi indicado nove vezes e vencedor por duas vezes do Grammy Latino, reconhecido por seu som "costeño" em criativa mistura de sabores que se estende desde o uso de marimbas e bongôs até trompetes e timbales. Neste ano de 2020, o recém-lançado álbum "ChocQuibHouse" mostra o potencial da música do Pacífico ao manter as raízes e fundir tradição com contemporaneidade.


foto: divulgação


O som ancestral colombiano está sempre bem acompanhado. O folclore inventa e se reinventa na fusão de gêneros litorâneos e urbanos que fazem nossos ouvidos entenderem o que a Colômbia é na sua essência. A banda Herencia de Timbiquí nos ajuda nesse justo entendimento. Em miscelânea bem construída de jazz, rock, jam music celebram suas raízes africanas produzindo uma sonoridade global de raiz negra. Originários da remota cidadela de Timbiquí–por isso o nome–o grupo conta com 11 membros em som de uma orquestra com marimbas, guitarras, coros e trompetes. Os músicos já passaram por grandes festivais internacionais, como o Festival de Jazz de Montreux na Suíça e o SXSW nos EUA, em turnês que os levaram da pequena cidade colombiana de Timbiquí a Rússia, o Zimbábue e aos Emirados Árabes. O conjunto afro faz dos elementos musicais próprios e, da música que passa de geração em geração, uma herança do mundo.


foto: divulgação


A música na Colômbia mostra como é rico o universo das Artes em um variado contexto social. A fusão de gêneros e a versatilidade de seus músicos revela uma autêntica representação, sublime, da sociedade colombiana. Sejam andinos, pacíficos, mestiços, afro, urbanos, o espetáculo cultural do país desperta história, lutas sociais e vontade de dançar. Isso tudo combina a manipulação, nada aleatória, de diversos estilos musicais. Seu rico patrimônio cultural quebra preconceitos e faz com que rockeiros dancem merengue, que o hip-hop soe como salsa, que o jazz seja caribenho e o reggae algo urbano. A "cadeira cativa" da Colômbia no Grammy Latino descortina o que está sendo dançado neste momento de Bogotá a Cali, de Medellín a Cartagena.


O forte incentivo à cultura faz dançar as esculturas de Fernando Botero, compõe a trilha sonora dos contos de Gabriel García Márquez, tudo isso em um resultado perfeito da sinergia entre alma nativa indígena, cores africanas e sensualidade ibérica. Somos todos um pouco colombianos, como está comprovado no realismo mágico de uma poética plena de cores, sabores e sons.


*Felipe Viveiros, graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP, tem extensão universitária em Comunicação Empresarial pela Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá) e é mestre em Relações Internacionais e Organização Internacional pela Universidade de Groningen (Holanda).

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