12 de dez de 2020

Pausa para um café

Uma lista quentinha de saborosos filmes sobre o grande unificador de gostos, povos e nações.

Por FELIPE VIVEIROS*

Como falar de cultura do resto do mundo sem falar do café? A bebida está presente nas mais variadas esferas culturais, parte dos rituais da sociedade e material criativo das histórias em quadrinhos, séries de televisão e filmes no mundo todo.

É muito comum que cafeterias sejam a locação principal de uma série de TV ou de um filme. Personagens com um expresso na mão é algo comum não só nas produções norte-americanas, mas nas mais diversas partes do planeta. Qual o porquê? Não seria essa tradição do "cafezinho" algo nosso, bem brasileiro?

O café como conhecemos hoje teve início, assim como a Humanidade, na África. É originário das terras altas da Etiópia, uma das culturas mais antigas do mundo. A palavra café não é a mesma nas diversas línguas do mundo por mera coincidência. Seja Kafei na China, Kopi na Malásia, Kofe na Rússia ou café no Brasil, a palavra que define o néctar da erva rubiácea tem origem árabe "qahwa", que significa vinho – "o vinho da Arábia" – quando chegou a Turquia no século 16. Na verdade, a cultura em torno do café e das tão amadas cafeterias data da Turquia deste mesmo século.

A hábito do café teve uma forte presença cultural em grande parte do antigo Império Otomano, e hoje o café turco (com pó na xícara) continua sendo o estilo dominante de preparação em muitos países. O café apreciado no Oriente Médio era produzido na Etiópia e, em 1600, as cafeterias se constituíam em uma característica proeminente da vida otomana, importantes centros de rituais sociais. As cafeterias na Europa Ocidental se tornaram no século seguinte, não só centros de convívio, mas também polos artísticos e intelectuais. Em 1800, as cafeterias de Londres eram populares pontos de encontro de artistas e escritores e, também, locais de atividades política e comercial. Paris, a charmosa capital francesa, foi fundamental para o desenvolvimento da "sociedade do café" na primeira metade do século 20. O Café Les Deux Magots, por exemplo, hoje uma atração turística da cidade luz, é associado ao filósofo Jean-Paul Sartre e à escritora feminista Simone de Beauvoir.

Que tal um gole de cultura, sociedade, história e boemia com uma lista quentinha de filmes sobre esse unificador de gostos, povos e nações?

Prepare sua xícara e viaje o mundo com a nossa seleção especial de grãos de diversas partes do mundo.

Black Coffee (2007)

Continente: América do Norte

País: Canadá

A série documental de três partes, dirigida pela canadense Irene Lilienheim Angelico, examina a complexa história do café e detalha sua influência política, social e econômica desde o passado até os dias atuais. O filme mostra como o café é a oitava commodity mais comercializada no mundo, e que isso não é sinônimo de riqueza. Em uma xícara de café que vale dois dólares, apenas um centavo vai para o produtor. A obra revela como a desigualdade do café moldou a história dos continentes em diversos momentos, até mesmo na Guerra Fria.

Café con sabor a mi tierra (2019)

Continente: América Central e Caribe

País: Honduras

O drama do diretor Carlos Membreño mostra o lado humano por trás de cada xícara de café hondurenho. A produção é uma homenagem aos mais de 100.000 cafeicultores que administram a atividade no país centro-americano. O café é o principal produto de exportação de Honduras, com vendas de cerca de um bilhão de dólares ao ano. O longa mostra os "dois mundos" dos produtores: de um lado a adversidade, as dívidas com os bancos e as ruínas e de outro o sucesso, as grandes produções e a diversificação das fazendas.

The Lost Café (2017)

Continente: África

País: Nigéria

Do renomado produtor e diretor nigeriano Kenneth Gyang, The Lost Café aborda uma jovem que deixa a Nigéria para viver na Noruega em busca do sonho de fazer a carreira de cinema. O choque cultural a solidão tomam conta da menina, até que tudo muda ao descobrir uma cafeteria com um barista que faz "o melhor café do mundo". O filme é um drama romântico, uma combinação entre a cultura de cafeteria e uma história de amadurecimento pessoal, que trazem à tona os verdadeiros sonhos da jovem e a superação dos seus problemas familiares.

Coffee for All (2017)

Continente: Europa / América do Sul

País: Itália / Argentina

Em uma encantadora viagem de Nápoles – Buenos Aires – Nova York, o filme dos diretores Fulvio Iannucci e Roly Santos, abre a mente para uma reflexão cultural ao degustar café em diferentes lugares do mundo. A produção deixa claro que tomar café é um evento social, uma bebida que reúne e integra as pessoas independentemente do país de origem. A obra desvenda tradições e costumes dos três países e é convite para entender o café não só como bebida, mas como uma forma de transmitir calor e gerar entendimento entre os seres humanos.

Coffee Futures (2009)

Continente: Ásia e Oriente Médio

País: Turquia

É claro que o país que popularizou o café no mundo não poderia ficar de fora desta seleção. De maneira criativa, o curta-metragem turco tece narrativas paralelas sobre a sorte pessoal no amor e o futuro das relações Turquia x União Europeia nas borras de café. O costume de ler o futuro na borra de café é algo comum na Turquia e também um método de expressar, de maneira indireta, opiniões sobre assuntos polêmicos ou complicados. A cineasta Zeynep Devrim Gürsel faz com que as cartomantes divirtam o espectador ao esclarecer, nas borras de café, o problemático "namoro" entre a Turquia e a União Europeia.

*Felipe Viveiros, graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP, tem extensão universitária em Comunicação Empresarial pela Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá) e é mestre em Relações Internacionais e Organização Internacional pela Universidade de Groningen (Holanda).